domingo, 3 de janeiro de 2010

UM PEDAÇO DE MIM


Há um vazio enorme
Mas há muito lugar para a dor

Há um lugar sombrio
Acumulado de mágoas
Reiterado de perdas e não de ganhos.

É um buraco profundo e negro.
É a ausência.
É o abandono.
É o não confiar
Em ninguém... em nada.

Mas, e em mim? Ah! Isso sim.
Tenho muita
Mas essa confiança veio
Acompanhada de muita dor;
De não ter com quem contar nunca.

Tudo sempre foi à porrada.
A vida inteira foi assim.

Estou cercada de pessoas
Amigas, eu sei.
Mas até quando?

Sei que há sempre alguém
Tirando de mim o que já não tenho
Ou nunca tive.
Sei lá!

Nada é fácil. Nunca foi.
Para conseguir é preciso
Pedir, implorar, gritar
Chorar
Quebrar
Dar uma de louca
Destruir

Tenho erros, falhas, equívocos, mas
E ouvir que o que eu quero não é importante?

Choro! Choro! Choro!
Por enquanto.

Mara Gonçalves/2008

ESPAÇO

Agora estou aqui.
Sentada na sala ouvindo o silêncio
Ensurdecedor do seu sono.
Assim a vida passa.
Eu aqui e você....
Não sei realmente onde você está.
Sabe eu procuro por você todos os dias
E, sinceramente, nunca encontro nada
Nada diferente daquele homem que tem
O olhar perdido no nada,
A voz calada na indiferença
O desejo sabe-se lá em que lugar.
Tenho saudade das promessas que você me fez.
Daquele homem que pensei conhecer.
Hoje você me parece mais um menino
Que precisa de colo - não do meu.
Que não sabe amar – nem a mim.
Porque não se ama.
Seria bom se pudesse perceber a sua imaturidade
emocional.
Está nela a sua falta de presença no mundo.
Continuo olhando pra você e cada vez sua imagem
está mais difusa, confusa, sem dono, opaca
desaparecendo.
Não sei como você consegue acordar e não ter para
quem dizer bom dia.
Mara Gonçalves/2009
Mais um dia (para meu irmão)

É estranho acordar
enquanto você dorme.
Dorme há dias.
É estranho falar
Enquanto você permanece mudo.

Houve tanto para ser dito,
Não se escutou
O silêncio foi maior.

É estranho!
A iminência da morte me levou mais uma vez
A você
E mais uma vez você não percebeu.

Mas você continua aí
No seu mundo que nem é seu.
Ruim. Triste. Opaco.

Olho para você e me pergunto
Quem é esse homem
Que passou pela minha vida e não entrou,
Que passou na minha vida
e não me ajudou a escrever uma história bonita.
Nem sei, na verdade, como você é...

Idéias, palavras, quantas presas em você!!!

Na minha vida há páginas em branco
Cujo personagem deveria ter sido você.
Há nelas um buraco profundo.
Oco. Doído. Escuro.

E mais ou menos como diz o poeta

“nem que eu bebesse o mar
encheria o que eu tenho de fundo”.

Falta sua!

Mara Gonçalves